Lilian Maus e Helen Rödel falam sobre o projeto adidas originals superstar na IDEAFIXA
Confira a entrevista sobre o projeto #adidasoriginals em que a artista Lilian Maus e a estilista Helen Rödel falam sobre o processo de parceria criativa realizada em 2015, com curadoria do Lucas Ribeiro.
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Celebrando o maior ícone da marca adidas – o Superstar, a marca reuniu 6 criativos brasileiros, representando São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre, para desenvolverem projetos que influenciassem pessoas de forma positiva, estimando uma devolução positiva para cultura urbana ao redor das mesmas.
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Lilian Maus vem dividida em três: como artista, pesquisadora e gestora cultural. Doutoranda em Poéticas Visuais, mestre em História, Teoria e Crítica da arte, Lilian foi convidada a juntar seu vasto repertório artístico com o crochê detalhista da estilista Helen Rödel. Para sua marca, Helen cria peças de roupas futurísticas que combinam em sua produção o design genuíno e tricô.
A ideia do projeto das duas era levar pessoas comuns a interagir e se aprofundar no mundo da moda e do processo criativo, desafiando o que é ser Superstar em todas essas áreas. Helen e Lilian criaram uma instalação onde 30 pessoas puderam interagir com diferentes materiais, formas e sensações e no final cada uma criou sua própria peça inspirada na Jaqueta Superstar.
Lilian: “Acho que a principal mensagem é para que as pessoas valorizem mais os pequenos gestos do cotidiano que às vezes podem parecer tão banais, como o vestir, o costurar, o tocar, o deitar, o respirar. Tudo isso pode atuar como uma ponte possível para o resgate do nosso mundo interior, trazendo um certo conforto.”
/No Útero da Linguagem/ foi construído como um abrigo para quem interagisse com a instalação. Todas as sensações proporcionadas por ela somadas aos sons do corpo – batimentos cardíacos, respiração, etc. -, criavam a atmosfera para o nascimento de outros 30 Superstars.
Apesar de longe apreciarem o trabalho uma da outra, as duas artistas não se conheciam pessoalmente antes da convocação da adidas. Apesar desse fato, segundo Lilian, combinar o universo da moda com o da arte contemporânea foi mais desafiador do que ter que somar sua arte com a de outra pessoa.
“Realizar parcerias criativas sempre é um desafio, ainda mais neste projeto que era bastante aberto inicialmente e que propunha colocar em relação dois campos diferentes.” Segundo a artista, o desafio das duas foi diferente dos do Rio de Janeiro e São Paulo, que se partiram de áreas únicas para trabalhar, no caso, o skate e a música respectivamente.
Apesar disso, as artistas contam ter descoberto muitos elos em comum em seus processos de criação. A paixão pelo resgate de materiais e processos manuais, que hoje entram em obsolescência, são exemplos.
Lilian: “Desde os anos 1960 a arte contemporânea vem entendendo a obra como processo e não apenas como um produto acabado, isso tudo, a meu ver, torna as experiências muito mais ricas e libertadoras. É legal ver a moda assimilando este discurso também.”
Lilian disse ainda que esse é um modo pelo qual ambas tentam escapar da lógica nociva e acelerada do mercado que busca o novo pelo novo.
Helen: “Meu trabalho só existe pois se põe como plataforma de livre expressão da minha criatividade.
Explorar e corporificar o passado, o presente e o futuro que estão em mim, de forma genuína, é minha oferta única. Entendo minhas criações como ferramentas de libertação para quem as vestir.”
Para Lilian, foi um duplo desafio sair da sua linha de entendimento para embarcar na linguagem do mundo da moda – já que não só Helen mas todos os consultores do projeto tinham ligação com o mundo fashion.
Lilian: ”Isso foi um grande desafio! Mas acho que, ao final, todo mundo aprendeu muito e conseguimos agregar nossas diferenças nessa experiência que se deu em estúdio.”
Segundo Helen, a liberdade aparentemente absoluta para criarem algo foi o que as colocou em estado de confusão.
“Nada nunca é tão livre na produção artística. Pudemos ressignificar o conceito de superstar com a dialética de um encontro. Mas era mais. E nos instigaram a querer mais e a colocar nossos objetos artísticos para ilustrar isso.”
Apesar das dificuldades, o pensamento feminino foi a matriz comum que engajou o ótimo casamento dos diálogos no projeto das artistas.
Helen: “Neste ponto encontramos conforto, pois já havia se construído um novo conceito com base na nossa fortuna.”
O pensar espiritual de Lilian foi complementado pelo pensar criativo de Helen, fundado em belas artes. Seu envolvimento com a roupa não se resume ao consumo descartável, ele se refere ao corpo com discurso de sensibilidade.
Helen: “Gosto de pensar que minhas roupas são ergonômicas e belas para adornar corpos, mas que como esculturas, também têm vida própria, dado que foram sonhadas e concebidas como estruturas plenas de pensamentos e sentires.”
A formação de duas linguagens em uma só aconteceu nos detalhes do trabalho das duas. As cores, as formas e as sensações que as artistas desenvolveram propuseram a experiência de criação individual para as 30 pessoas que experimentaram a fábrica de Superstars.
Helen: “Não há como experienciar a vida neste mundo, sem estar consigo, de forma franca e corajosa. Creio que o real Superstar seja aquele que se desbrava, se encara, reconhece o genuíno em si, ofertando-o ao mundo; e ofertar é uma ação que muito diz respeito aos nossos tempos.”
Lilian: “Na maior parte do tempo estamos tão centrados no que brilha lá fora que esquecemos de olhar para nossas obscuridades internas. Todo mundo tem as suas e quando a confrontamos costumam revelar-se uma potência para criação.”
A mensagem final de Helen e Lilian tenta subverter o conceito de Superstar e ressignificar o uso do tênis, que segundo Helen, transcendeu a fronteira do design de produto e tornou-se um objeto de humanidade. A proposta de adidas Originals Superstar colocou todos os envolvidos em contato com a verdade de que cada ser tem o extraordinário em si.